domingo, 22 de março de 2015

Entrevista com Manuel Nabais Ramos

Olá Manuel Nabais Ramos, 

Podes apresentar-te:
Falar de si é difícil e pode ser um exercício narcísico ou jesuítico. Em síntese, sou o Manel Pereira. LOL

Qual é a tua relação com a Torre ?
É quase a mesma relação que a do Ulisses com a Ítaca. Uma vontade e o desejo constante de regressar ao ponto de partida.Tenho uma relação particular com a nossa aldeia da Torre desde a infância ; uma ligação física e a saudade, é óbvio. Digo que é nossa porque a aldeia Torre pertence aos Torrenhos. Deveriamos enviar uma petição para a Assembleia da República para pedir a independência ou então uma espécie de autonomia !  Tudo isto merece reflexão. Bom,  falando a sério, o céu da Torre para mim tem mais estrelas, e é por essa razão que um dos meus poemas preferidos é a  “Canção do exílio” do Brasileiro  Gonçalves Dias

Nosso céu tem mais estrelas
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Quais são as tuas recordações da Torre ?
Inúmeras... umas felizes outras demasiado tristes. Não quero ir mais além.

Qual é o teu currículo escolar ?
O meu currículo escolar é simples. Isto é, escola primária na Torre e no Sabugal e depois em França. Para mim, além das duas teses de doutoramento em História contemporânea com a Sylvie Guillaume e depois em Direito Público com o meu orientador e amigo o Marcelo Nuno Rebelo de Sousa, o mais difícil foi quando preparava o concurso para integrar o Instituto de Estudos Políticos, em Setembro de 1983 (concurso que preparei bebendo cervejas e outras bebidas estranhas durante o mês de Agosto, entre o Sabugal e a Torre).
Fui a prestar provas com quase um grama de álcool em cada olho. Estranhamente o resultado foi bom porque consegui essas provas extremamente difíceis. Um milagre.   

Foram os teus estudos que te levaram a especialização sobre Portugal o a paixão das tuas raízes ?
Não. Foi o meu diletantismo. A minha pequena « especialização » é a administração e gestão de empresas. 

O teu livro é tirado da tua tese de doutoramento em direito público e trata do governador civil. E mais ?

O livro é uma análise global da instituição representativa do poder central  ao nível local atravez do sintagma « servente do Estado », isto é, do prefeito e do governador civil, como personificação do caciquismo político, das elites locais e também duma certa tradição administrativa portuguesa.

Além disso é também uma reflexão juridico-política sobre a futura representação regional do poder central quando as regiões administrativas forem instauradas. Temos também outra prioridade que consiste na diminuição substencial dos deputados na Assembleia da República. Pois estou convencido que Portugal não poderá ficar muito tempo sem instaurar um meso-poder desconcentrado, nem as cinco regiões administrativas.

Actualmente estas a viver em Bordéus, onde viveu uma grande figura do nosso país, um herói, o Dr. Aristides de Sousa Mendes, que representa para ti este Grande homem ?
Aristides de SOUSA MENDES é o arquétipo do homem, e Português, que põem acima de tudo, as suas convicções ideológicas, éticas e morais, a coragem e a abnegação. Lamento que seja mais conhecido aqui em França do que em Portugal.  

Querem o Eusébio no Panteão Nacional, não achas que o Dr. Aristides de Sousa Mendes também merece ?
A pergunta é  interessante, mas filosoficamente complexa. Quem pode, em consciência, decidir que tal ou tal pessoa deve ir para o Panteão Nacional? Mas no caso de Aristides de SOUSA MENDES seria engraçado porque teriamos o general Oscar CARMONA e o Aristides de SOUSA MENDES debaixo do mesmo telhado.  Pobre Jõao de Deus.

Quais são os teus projetos futuros ?
Continuar como Diretor Geral adjunto do Grupo a administrar e gerir e tentar desenvolver certas actividades mas o contexto económico e social é actualmente muito difícil. Ir também em breve a Lisboa visitar uns amigos. Tenho outros projetos mas isso é o meu jardim secreto.

Tens alguma coisa a dizer ao pessoal da Torre ?
Sim. Que me deixem algumas cervejas de lado là na associação, cada vez mais dinâmica. Pois é muitíssimo importante e vital termos um ponto de encontro como esse, para animar a malta, e continuar a fazer conviver todas as gerações. O pessoal da Torre é uma comunidade de pessoas altruistas. Na nossa aldeia devem continuar a reinar a liberdade, a  igualdade e a fraternidade.  

Boa continuação Manuel e muito obrigada !
Obrigado eu e santa saúde  para todos.

Aline.E